A IGREJA MATRIZ DA VILA DE SÃO PAULO – Séculos XVI e XVII 

por Gustavo Neves da Rocha Filho

            O terceiro governador geral do Brasil, Mem de Sá, sabendo o estado da capitania mandou a conselho de todos  que a vila de Santo André da Borda do Campo se  mudasse para junto do Colégio dos Jesuitas por ser lugar mais forte e defensavel.

            Mudada a vila em 1560 mudaram tambem o nome para Vila de São Paulo do Campo, depois São Paulo de Piratininga e finalmente apenas São Paulo.

            Ao delinear o traçado da nova vila escolheram o contorno dos novos muros e no interior colocaram o pelourinho trazido de Santo André.

            Em torno do pelourinho traçaram uma praça aproximadamente quadrada onde o lado oposto ao pelourinho foi dividido em lotes de 3 braças de frente por 17 de fundo sendo os lotes dos cantos ocupados mais tarde por Anfré Mendes e Diogo Teixeira, ficando os dois lotes centrais destinados a construção da igreja matriz.

            No entanto somente 28 anos depois, na sessão da Camara de 7 de fevereiro de 1588, é que:

            resolveram fazer a igreja matriz para que tenha vigario e coadjutor, ornamento, sinos, etc.

            No mês de junho seguinte, no dia 06-06-1588, promoveram um ajuntamento do povo sobre a necessidade de se fazer a igreja matriz e nomearam dois homens para fintarem o dinheiro. A igreja devia ficar entre as casas de Diogo Teixeira e André Mendes.

          No ano seguinte, na sessão de 04-05-1589, fazem carta ao governador geral informando que a vila passava de 150 moradores e pedindo para nomear vigario para a igreja que se há de fazer e doar as coisas pertencentes ao culto, ornamento, sinos.

            Tres anos depois, em 01-01-1591 tornam a lembrar ao governador sobre a igreja porque a vila passava de 140 moradores, e que finta para se fazer não teve efeito. Os padres da companhia não podiam mais acudir a tanta necessidade por causa da gente ser muita e as enfermidades cresceram.

            Imaginaram, então, que seria necessário alguém que trabalhasse para a concretização do desejo de ter uma igreja matriz.

            Para isso, em 31-08-1591 fizeram uma reunião com o vigario da vila de Santos para apresentação do padre Lourenço Dias Machado vir receber provisão para vigario  da vila de São Paulo e se encarregar da concretização do desejo de todos

            Em 07-02-1593 estava o povo prestes a fazer a  igreja e que se o vigario quiser correr com a obra da capela logo se fará o corpo da igreja e assentaram que se começaria a fazer a igreja em maio próximo futuro

             Mas houve problemas com o vigário.

            Em 16-04-1593 para regularizar a situação do padre Lourenço Dias Machado não lhe deviam dar contas mas o deixariam ir negociar seus papeis. O padre estava há dois anos servindo de graça, fazendo muitos gastos e por isso pedia justiça.

            O padre Lourenço Dias Machado iria à Bahia para buscar seus papeis e confirmaram em 13-03-1594 a aprovação para o padre Lourenço Dias Machado ir pessoalmente tratar de seus interesses.

            Cinco anos depois, em 14-06-1598, um ajuntamento se fez para se louvar o povo em quem finte, isto é, cobrar  um tributo para a igreja.e se há quem faça mais barato por haver quem diga que é caro o preço combinado com Domingos Luis.

            Mais cinco anos são passados e a 25-07-1598 consta das Atas da Camara um termo de juramento que se deu aos alvidros para fintarem o que dar para a igreja.e que a dita igreja  está começada no meio da vila.

            Começam então os problemas com a construção. 

            Em 14-11-1598:

            que se notificasse Domingos Luis e Luis Alvares com pena de 6$000 que fizessem a igreja e não largarem mão dela.

            E problemas também com os moradores como o que se deduz da linguagem complicada da ata de 23-06-1598:

            que havia termo feito que todos mandassem  a  igreja  as taipas e que algunas pessoas foram reves (reinsidentes) e não mandavam  alguma e que fossem condenados conforme o termo e o declarou que os que não mandaram eram os seguintes a saber – Gaspar Coqueiro, João Rodrigues e seu genro, Clemente Alvares, Diogo Luis Malheta, Custodio de Alencar e sua sogra, aos quais pelos ditos oficiais houvessem por condenados cada um em 2$000

            As obras deviam estar interrompidas como se lê na ata de 11-11-1598: 

            que estando feita com madeira ao qual estava ao sol e a chuva e se perdia que era necessario agazalha-la e limpa-la e para isso fizessem uma tapagem de palha para que não se perdesse por custar aqui muito a madeira e estar paga perecendo e recebe muita perda o povo e que para isso era necessario que os moradores fizessem a dita tapagem.

            Quatro anos depois, em 20 de junho de 1602, porquanto a igreja matriz estava por acabar e o sr, governador tem dado licença por sua provisão que se fintasse o povo.

            Braz Esteves e Domingos Afonso foram ver a dita igreja e vissem o que há de mister assim madeira e telha como portas para conforme isso tudo se fintar o povo no dinheiro que se montar para uma vez e não por muitas.

            Decorridos oito anos a obra estava mais uma vez paralisada e em 09-02-1610 que fosse chamado Luis Alves para lhe encarregar que se faça a igreja matriz desta vila.e que se chamasse Gonçalo Pires para com eles combinarem que façam a igreja matriz pois Gonçalo Pires  é homem que entende de obras e tem oficiais e posse para o fazer.

            Finalmente a obra estava chegando ao fim como se deduz da leitura da ata de 24-08-1610:

            assento que fizessem os oficiais abaixo assinados com Cristovan de Alencar sobre fazer a igreja em que se obrigou a acaba-la.

            Em 02-10-1611 os oficiais da Camara reuniram todo povo para falar sobre o dinheiro que faltava para a igreja:

            a finta não alcançou o necessário para se acabarem as obras da igreja e que para não cair o que está feito e não se perder pois custou tanto aos moradores de trabalho de madeiras e outros petrechos para o qual era necessario botar-se mais tanto quanto baste e se acabar e não se perder o que está feito pois uma vila como esta não tem uma igreja matriz  como tem as demais vilas

            Na mesma sessão da Camara decidiram que se que havia de tomar contas aos oficiais passados da finta da igreja que se arrecadou para se fazerem as obras da igreja e assentaram todos que a tomassem de Jose de Camargo e Alonso Peres e por ser terceiro o padre vigario desta vila João Pimentel para desengano assim deste povo como das partes

            Depos de outros dois anos, em  16-12-1613:

            assentaram os oficiais que se ajuntasse o povo para domingo se fintar e tratar sobre se acabar a igreja para que não se perca o que está feito e para se pagar o que nisso se gastar e nisto acordaram por se tratar sobre se dar fim a obra da igreja.

            Na sessão de 11-04-1620 não vieram Gaspar da Costa, Pero Dias e Garcia Rodrigues por andarem ocupados com a armação da igreja matriz.

            Em 15-02-1625 a obra estava concluida pois mandaram que os moradores limpassem suas testadas, carpissem o adro da igreja matriz e praça desta vila.

             Os oficias da Camara acreditavam ser donos da igreja pois tinham nela lugar especial.

            Mas logo veio o protesto como se lê na última ata do século XVII , de 10-01-1632, que trata da igreja:

            o banco que estava no meio da igreja em que assentavam os oficiais era grande prejuízo e escândalo deste povo por tratarem mal as mulheres.